CAMINHANDO COM AS CRIANÇAS DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

CRIANÇAS DIVINAS
As imagens de Deus podem não conseguir dizer quem é Deus e seu mistério pleno, mas podem expressar certamente quem somos nós que buscamos dizer algo da face de Deus, enquanto dizemos nossa visão do divino e do mundo.
Muitos povos fazem referência a Crianças Divinas. Nelas se apresenta uma sabedoria natural, uma relacionalidade infinita, uma retidão fundamental. A Criança Divina leva a humanidade ao que há de melhor, mais belo e verdadeiro.
Fica o desejo de que uma criança nos conduza à plenitude, à alegria, à espontaneidade brincante, à paz, ao equilíbrio, à harmonia interior, ao amor incondicional, à confiança original.

AS CRIANÇAS DIVINAS NA ÍNDIA
Na Índia há diversos deuses-crianças: Murugan, Avyappa, Krishna. Estas imagens trazem as presenças primordiais que renovam os caminhos, sempre que a superficialidade dispersa os seres humanos de seu projeto mais profundo.
Krishna, filho da princesa Devaki e seu marido Vasudeva, veio, há 5 mil anos atrás, trazer a paz a uma região conturbada. Sua ação é divina pois celebra a vitória da fragilidade sábia sobre a arrogância prepotente.
Segundo o relato do Bhagavata Purana, foi concebido sem relação sexual e seu nascimento foi anunciado por uma estrela no ocidente. O rei Kamsa, de Mathura, sentiu-se ameaçado e mandou matar Krishna com medo de perder o lugar para a criança nascida.
O nascimento de Krishna é celebrado anualmente numa festa popular chamada Krishnashtami. É a noite de Ashtami, em que as famílias jejuam até a meia noite, fazem uma imagem de argila de Krishna, e realizam celebrações com as crianças no centro das atenções.
O Bhagavad Gita (a Divina Canção de Deus), um dos livros sagrado que faz parte do poema hindu Mahabharata (A Grande História da humanidade), conta a história de Arjuna, um jovem guerreiro que, guiado por Krishna busca sua verdade interior, seu desenvolvimento espiritual enquanto vive as lutas da vida.


A CRIANÇA NO ISLAMISMO
Cada momento da existência é estreitamente ligada à religião islâmica.
A família é muito importante, mas nos sentimos também parte da grande família dos fiéis de todo o mundo. Sendo que o nascimento é considerado dom de Deus, a criança é integrada na religião o mais breve possível. A escolha do nome acontece quando a criança tem aproximadamente 7 dias. Na mesquita e na escola são ensinadas muitas coisas, mas o local de educação é principalmente a casa, onde as crianças devem respeitar os anciãos e honrar os pais.
http://www.pime.org.br/missaojovem/mjregislamismoalem.htm

O Direito das Crianças na tradição do ISLÃ
O Islam orienta os muçulmanos em todos os aspectos da vida portanto não seria diferente em relação à educação dos filhos. Para garantir à criança uma série de direitos, o Islam instrui os muçulmanos a observar uma atitude correta mesmo antes de seu nascimento.
Quando pais muçulmanos são abençoados com o nascimento de uma criança, o primeiro procedimento é lhe dar um banho e vesti-la. Depois disso a mensagem da Unicidade de Deus e da profecia de Muhammad  (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) deve alcançá-la através da repetição do "Adhan" ( a chamada para a oração no Islam) em seu ouvido direito.


TRADIÇÕES AFRO E A CRIANÇA

Há referências sagradas nas tradições africanas e afro-brasileiras. Ibeji, para a nação Ketu, é o Orixá-Criança, é o Orixá Erê. É a divindade da alegria, da vivacidade brincante.
O fato de serem gêmeos faz dos Ibeji um princípio dual abrindo a humanidade para a diferença, para a diversidade.
O fato de serem crianças, aponta para tudo o que é nascente: fontes, sementes, brotos novos, vida nova, nascimento.
Ibeji está em tudo o que é bom, puro, inocente, inaugural, vibrante. Está na beleza da natureza, no canto dos pássaros, na leveza da borboleta, no perfume das flores.
A criança que está em cada ser humano pode ser recuperada porque Ibeji já viveu todas as felicidades e artes que a humanidade vive. Quem dá felicidade a uma criança expressa a presença de Ibeji que está na magia do sorriso, na ternura da acolhida. Recupera-se, assim a infância que mora em cada um.
Os filhos e filhas de Ibeji por vezes dão trabalho, porque na sua inquietude infantil, estão sempre em busca de novos tempos e novas artes.
O elemento em que se encontra imerso Ibeji é o ar. As duas cabaças pequenas são seu símbolo e a saudação mais comum é Omi Beijada.
 
AS CRIANÇAS DIVINAS NA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ
ISAÍAS E O EMANUEL
Eis que a jovem mulher está grávida e dará à luz um filho. Chamará seu nome Emanuel” (Is.7,14).
O rei Acaz estava organizando sua corte e seu exército para colocar tudo sob controle, para salvar o povo dos inimigos e para invadir outros povos. O rei dizia que Deus estava com ele. Até sacrificou seu filho para que Deus o ajudasse a destruir os inimigos.
Isaías confia no futuro da fraqueza, e desconfia dos projetos do rei e de seus generais. Mostra que Deus não está com o projeto de força do rei Acaz. Isaías profetiza o Emanuel (“Conosco-está-Deus”).
Acaz dizia:
Deus conosco, vamos às armas e exploração”.
Isaías diz: “Conosco-está-Deus, não às armas, uma criança nos guiará”.
RUTE E A LUZ DAS NAÇÕES
Neste mesmo contexto está o livro de Rute: tudo recomeça com o nascimento da criança.
O casal Elimelek e Noemi, forçado pela fome, abandona sua terra e migra para um outro país (Rt.1,1). Os nomes dos filhos, reflexo da miséria do povo, Maalon e Quelion, são simbólicos: Doença e Fraqueza (Rt.1,2). Os dois filhos de Noemi têm que ir para fora do país, lá se casam, mas nem deixam filhos (Rt.1,4-5). Sobram três viúvas sem filhos, sem terra, sem futuro, imagem da situação do povo da época.
A esperança começa quando Noemi soube que “Deus visitara seu povo dando-lhe pão” (Rt.1,6).
Fé em Deus e amor à vida. Isto aconteceu com as parteiras no Egito.
Também Noemi e Rute entram nesta caminhada – fé em Deus e amor à vida - até o nascimento do menino, chamado Obed, isto é, Servidor e Luz das Nações, uma nova esperança para o povo (Rt.4,13-17).


TRADIÇÕES INDÍGENAS E INFÂNCIA
Podemos lembrar aqui a afirmação do cacique Seattle, da tribo Suwamish, em 1855:
Seja o que for que aconteça aos animais e plantas, acontecerá também ao ser humano. Todas as coisas estão ligadas. O que suceder à terra sucederá também com os filhos da terra (...) Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, e esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum”.
(Disponível em <http://www.ufpa.br/permacultura/carta_cacique.htm> acesso em 26 abril 2011).


A criança indígena esteve no centro da vida das comunidades indígenas e fazia parte do culto vivo a Deus.
Eu adorava Deus, Maíra em toda coisa (...)
A vida era meu culto, a dança era meu culto,
a terra era meu culto, a morte era meu culto,
eu era um culto vivo!
Eu tinha uma cultura de milênios
antiga como o sol, como os montes e rios
da grande Llakta Mama.
Eu plantava os filhos e as palavras.
Eu plantava o milho e a mandioca.
Eu cantava com a língua das flautas.