HAMLET, A JUVENTUDE E O CURSO DE VERÃO
Vivemos o Curso de
Verão 2013.
E já estamos de olho
em 2014.
E estamos nas vésperas
da Campanha da Fraternidade da Juventude.
Escutamos o Jaime
alertar, por várias vezes, que nós não estamos levando a sério a juventude, que
nós não estamos escutando em profundidade os reclamos dos jovens.
Já fomos pensar no
desafio, antes de nos despedirmos deste dia final do Curso de Verão. É quase
meia noite e não queremos largar os acontecimentos belos e as provocações
desafiantes.
Pensamos que, em lugar
de controle e imposição sobre a juventude, a melhor atitude é a de abertura aos
mistérios pessoais e comunitários da nova geração.
Muitos de nós
assistimos a peça teatral de Shakespeare, Hamlet.
Hamlet é um jovem
diante de uma injustiça. Está diante do drama de decifrar o enigma da violência
e da mentira que encobrem assassinatos. É a nova geração diante de uma herança
devastadora.
Nossos jovens estão
diante do enigma das violações. E as sentem mais na pele do que no
entendimento. Estão perplexos com um mundo que agride a criança, a família, as
comunidades, os povos, e a humanidade que mora dentro de deles mesmos.
E a revolta se
expressa numa busca tresloucada. Há sofrimentos submersos, há conflitos
dilacerantes, há injustiças intragáveis, há protestos reprimidos, há fome nas
beiradas da abundância, há sobrevivência no lixo nas proximidades do luxo
escandaloso.
Como pode um jovem
suportar tudo e expressar seus sentimentos com melodia suave e domesticada?
Urgente se faz
compreender os jovens em sua inquietude e rebeldia.
Hamlet não está
tranqüilo.
Os jovens não estão
domesticados.
Hamlet toma uma
flauta, entrega a Guildenstem que quer silenciá-lo.
- Você diz que é meu amigo, e que me conhece, e que sabe o que é melhor
para mim. Quer tocar meu mistério. Toque esta flauta, então.
O ‘amigo’ diz que não
sabe tocar e Hamlet lhe joga na cara:
- Você não sabe tirar melodias deste instrumento tão simples. Quer
arrancar o coração do meu mistério, pretende tirar-me sons, da nota mais baixa
até a mais alta. Se não podem tirar excelente melodia que está neste
instrumento de sopro, como podem querer decifrar-me sem me conhecer em
profundidade.
Os jovens carregam em
si sonoridade, notas de alegria e de tristeza, de rebeldia e de sofrimento, de
louvor e de raiva, de sonhos e desilusões. Tudo está ‘no coração do coração’, como diz Hamlet.
A sociedade quer calar
o grito da juventude. Mas a musicalidade vai sussurrando no escondido até
encontrar os espaços relevantes de expressão. Calados ou destituídos dos
instrumentos internos e externos de expressão, os jovens vão teimando. É com
disse a mãe de Lula ainda jovem: ‘teima
filho, teima filho!’
O momento final do
Curso de Verão 2013, mostrou a juventude tomando conta do altar da celebração.
Depois de passos imprecisos, inquietos, desordenados, confusos, encontraram os
jovens seu momento de tomar a cena. Que recado havia naquela tomada de cena? Na
roda, na dança, na música, nos abraços, estava o desejo de serem compreendidos
no coração do coração.
Hamlet exigiu que sua
música fosse levada a sério. Os jovens querem que sua melodia seja ouvida.
Hamlet pede que seu
amigo Horácio explique aos outros sua verdadeira história. Os jovens contam
conosco para revelar sua busca e sua história.
Hamlet diz que ‘o
resto é silêncio’. Os jovens dão o recado: ‘quem nos compreendeu e fala
conosco, pode falar aos outros também; quem não nos ouviu não falará nada que
preste’. Isto parece com a frase de Dom Paulo Evaristo Arns na 3ª.Semana
Ecumênica da Criança e Adolescente em 1984: ‘quando
o adulto não ouve a criança, não pode falar algo que valha a pena’.
Quando a humanidade
insensível não escuta a melodia da juventude, continua a promover-lhe a morte.
Grupo Arte com Criança/2013.