domingo, 13 de janeiro de 2013


HAMLET, A JUVENTUDE E O CURSO DE VERÃO




Vivemos o Curso de Verão 2013.
E já estamos de olho em 2014.
E estamos nas vésperas da Campanha da Fraternidade da Juventude.
Escutamos o Jaime alertar, por várias vezes, que nós não estamos levando a sério a juventude, que nós não estamos escutando em profundidade os reclamos dos jovens.
Já fomos pensar no desafio, antes de nos despedirmos deste dia final do Curso de Verão. É quase meia noite e não queremos largar os acontecimentos belos e as provocações desafiantes.
Pensamos que, em lugar de controle e imposição sobre a juventude, a melhor atitude é a de abertura aos mistérios pessoais e comunitários da nova geração.
Muitos de nós assistimos a peça teatral de Shakespeare, Hamlet.
Hamlet é um jovem diante de uma injustiça. Está diante do drama de decifrar o enigma da violência e da mentira que encobrem assassinatos. É a nova geração diante de uma herança devastadora.
Nossos jovens estão diante do enigma das violações. E as sentem mais na pele do que no entendimento. Estão perplexos com um mundo que agride a criança, a família, as comunidades, os povos, e a humanidade que mora dentro de deles mesmos.
E a revolta se expressa numa busca tresloucada. Há sofrimentos submersos, há conflitos dilacerantes, há injustiças intragáveis, há protestos reprimidos, há fome nas beiradas da abundância, há sobrevivência no lixo nas proximidades do luxo escandaloso.
Como pode um jovem suportar tudo e expressar seus sentimentos com melodia suave e domesticada?
Urgente se faz compreender os jovens em sua inquietude e rebeldia.
Hamlet não está tranqüilo.
Os jovens não estão domesticados.
Hamlet toma uma flauta, entrega a Guildenstem que quer silenciá-lo.
- Você diz que é meu amigo, e que me conhece, e que sabe o que é melhor para mim. Quer tocar meu mistério. Toque esta flauta, então.
O ‘amigo’ diz que não sabe tocar e Hamlet lhe joga na cara:
- Você não sabe tirar melodias deste instrumento tão simples. Quer arrancar o coração do meu mistério, pretende tirar-me sons, da nota mais baixa até a mais alta. Se não podem tirar excelente melodia que está neste instrumento de sopro, como podem querer decifrar-me sem me conhecer em profundidade.
Os jovens carregam em si sonoridade, notas de alegria e de tristeza, de rebeldia e de sofrimento, de louvor e de raiva, de sonhos e desilusões. Tudo está ‘no coração do coração’, como diz Hamlet.
A sociedade quer calar o grito da juventude. Mas a musicalidade vai sussurrando no escondido até encontrar os espaços relevantes de expressão. Calados ou destituídos dos instrumentos internos e externos de expressão, os jovens vão teimando. É com disse a mãe de Lula ainda jovem: ‘teima filho, teima filho!’
O momento final do Curso de Verão 2013, mostrou a juventude tomando conta do altar da celebração. Depois de passos imprecisos, inquietos, desordenados, confusos, encontraram os jovens seu momento de tomar a cena. Que recado havia naquela tomada de cena? Na roda, na dança, na música, nos abraços, estava o desejo de serem compreendidos no coração do coração.
Hamlet exigiu que sua música fosse levada a sério. Os jovens querem que sua melodia seja ouvida.
Hamlet pede que seu amigo Horácio explique aos outros sua verdadeira história. Os jovens contam conosco para revelar sua busca e sua história.
Hamlet diz que ‘o resto é silêncio’. Os jovens dão o recado: ‘quem nos compreendeu e fala conosco, pode falar aos outros também; quem não nos ouviu não falará nada que preste’. Isto parece com a frase de Dom Paulo Evaristo Arns na 3ª.Semana Ecumênica da Criança e Adolescente em 1984: ‘quando o adulto não ouve a criança, não pode falar algo que valha a pena’.
Quando a humanidade insensível não escuta a melodia da juventude, continua a promover-lhe a morte.
Quando a humanidade terna e sensível respeita o mistério, tira as sandálias e escuta com coração aberto, as orquestras começam já na madrugada a expressar seus sons e a caminhar nas escolas e nas ruas, campos e construções, aprendendo e ensinando uma nova lição.

Grupo Arte com Criança/2013.



MESA – ESCOLA DE CIDADANIA

Dia 10 de janeiro, no Curso de Verão do CESEEP, tivemos 6 mesas de diálogo. Com 50 participantes, Luiz França, da equipe de Escola de Cidadania de Ermelindo Matarazzo, trouxe o debate e experiências sobre a formação de lideranças em rede.
Abriu um debate sobre a consciência ativa quanto aos direitos, à política, à participação nos rumos da cidade e do país.
Apresentou a importância de mobilizar a sociedade para ações transformadoras capazes de reverter as injustiças, garantir e ampliar os direitos.
Esclareceu sobre a rede de Escolas da Cidadania que estão surgindo em várias regiões da cidade de São Paulo e em outras cidades.
As perguntas e as contribuições dos participantes indicaram a urgência de:
- participar da vida da cidade coletivamente ampliando o poder popular.
- convocar as pessoas à participação e organização das lutas
- aperfeiçoamento e acesso a mecanismos de formação
- participação no orçamento da cidade
- participação no Plano Diretor
- debate de idéias e informações
- importância do controle social dos governos.

João e Salvador

sábado, 12 de janeiro de 2013


A ARTE COM CRIANÇA NO MUTIRÃO DO CURSO DE VERÃO
Fecharam horizontes, restam as fontes.
Se abres caminhos, com alma e mão repletas de chão,
seremos dois e muitos depois (salva)

A cada ano, dezenas de educadores e educadoras se reúnem a outras centenas de artistas populares no Curso de Verão promovido pelo CESEEP.
Propomo-nos a enfrentar ecumênica, artística e pedagogicamente um tema importante para a construção da cidadania solidária no Brasil, com o foco na infância e adolescência.
Em 2013 aprofundamos a dimensão da ação em rede.
REDES DIGITAIS: TECENDO RELAÇÕES, FORMANDO COMUNIDADES, EXERCENDO A CIDADANIA.
A história da humanidade está permeada de dominações, escravidão, sujeições, negando o ser humano em sua plural beleza, em sua destinação livre e solidária. É um emaranhado. Uma rede que se tornou mortalha.
No Brasil também vivemos nosso jeito de enfrentar tais descaminhos da humanidade. Vamos tecendo as redes da acolhida, do embalo aconchegante, da defesa da vida: rebeldias coletivas na memória subversiva do povo.

ARTE COM CRIANÇA NUM PROJETO DE EDUCAÇÃO POPULAR ECUMÊNICA
O CESEP, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, inaugurou um tempo propício para a vivência comunitária de saberes do corpo e da palavra, do movimento e da interioridade, dos desafios planetários e do cotidiano. Em vários estados do Brasil e alguns países da América e África, vai se espalhando esta experiência que em São Paulo se chama Curso de Verão e que tem 26 anos. Curso de Inverno, Curso de Verão, Tambor, são nomes desta experiência de educação popular ecumênica.


O Curso de Verão se constitui num dos espaços da grande universidade popular que constrói coletivamente o saber permeado de múltiplas vivências e lutas, de movimentos, da tessitura de redes de defesa da vida, de experiências de liberdade solidária, de festa e de agendamento da esperança, de riscos e martírios no compromisso evangélico.
A palavra, a pintura, o jogo, a escultura, os contos, a música, o texto, o saber, as vivências coletivas, a dança, a poesia, a dramaturgia, as imagens, a pedagogia, a política, a celebração, o movimento, o encontro, a culinária, os jardins cultivados, os estudos nos grupos, a assessoria... Qantos acontecimentos! Quanta plural beleza.
Não somos apenas artistas, mas uma obra de arte coletiva em eterna incompletude, uma auto-criação feita em mutirão.


Na ARTE COM CRIANÇAS, o mutirão torna-se também um acontecimento criativo, uma aposta coletiva nas possibilidades humanas que desde a infância teimam em romper com padrões domesticadores, destinos pretensamente irrevogáveis. No Curso de Verão a ARTE COM CRIANÇAS quer ser uma célula viva, criativa, com características comunitárias e sapienciais, no corpo do acontecimento histórico-social. Esta célula livre e criativa, quer transmitir energia emancipadora para outras células, formando uma comunidade 'orgânica' com tantas outras artes do Curso de Verão e com tantas outras histórias pedagógicas no Brasil. Participamos assim do povo do Reino de Deus, um órgão entre os órgãos do povo, momento vivencial de produção do corpo eclesial, do corpo social, de uma subjetividade comunitária livre e criativa.
Vivencia-se uma espiritualidade fecunda no cotidiano, ternamente celebrada com os elementos profundamente simbólicos da terra, do universo e da vida. Ativam-se as inter-relações afetivas de forma vibrante e acolhedora.
Assim a prática coletiva do Curso de Verão é a expressão artística coletiva atravessada pela vida da comunidade humana em solidariedade criativa e tramada com a participação ativa das meninas e meninos, sujeitos de direitos e da história.

  

CADERNO POPULAR DE PEDAGOGIA DA TERNURA E DA TESSITURA 
ARTE COM CRIANÇACESEEP 2013
salvador, silvania, maria de jesus, joão, paola, carlos, cecilia, kiko, cinthia, simônia, rodrigo, nilza, juliana, thainá, sofia, joel, susana, e quem mais chegar